Histórias da Guerra do Ultramar
Local: Guiné-Bissau
Data: 26 ou 27 de Abril de 1974
Logo pela manhã, saiu a Ordem do Comando para formar dois pelotões de Pára-quedistas e partir de imediato para a cidade de Bissau.
O objectivo era conter uma manifestação popular em frente ao quartel da PIDE/DGS e retirar os elementos da PIDE em segurança e transportá-los para local seguro, para posteriormente regressarem a Portugal com a finalidade de serem julgados por um Tribunal.
Fiz parte integrante de um pelotão de Pára-quedistas que esteve a manter segurança no exterior do edifício, juntamente com outros elementos do Exército e Marinha.
O outro pelotão de Pára-quedistas entrou no edifício da PIDE, os quais não ofereceram resistência à detenção.
Os manifestantes bastante exaltados, no exterior, aos milhares, gritavam “morte à PIDE e aos colonialistas”.
A cada instante que passava, a multidão apertava mais o cerco em volta do edifício e nós recuávamos mais um pouco.
A operação que a princípio se afigurava simples estava a piorar a cada momento e já se notava algum nervosismo nos nossos militares.
Entretanto recebemos ordem para efectuar disparos para intimidar os manifestantes.
O tiroteio de algumas dezenas de militares, durou apenas alguns segundos, durante os quais os manifestantes se puseram em fuga. Os que caíram, durante a confusão eram pisados pelos companheiros.
Houve um silêncio constrangedor durante algum tempo.
Na poeira do chão ficaram alguns feridos, não pelas nossas armas, mas por terem sido atropelados pelos colegas manifestantes.
Não houve baixas ou feridos entre os nossos militares.
Este episódio, e já passaram mais de 35 anos, ainda me vem à memória com muita frequência.
Carlos Alberto dos Santos de Matos
1º Cabo Pára-quedista nº 551/73